quarta-feira, 29 de julho de 2015

Entrevista De Paysano, Para Paysano: "Sempre coloquei na poesia aquilo que deixava de falar..." Matheus Costa

Essa semana a nossa prosa é com Matheus Costa, poeta da cidade de Dom Pedrito.

 
 
De Paysano, Para Paysano: Onde nasceu? Onde mora?
Matheus Costa: Nasci e moro na cidade de Dom Pedrito.
De Paysano, Para Paysano: Qual a tua maior saudade?
Matheus Costa: Minha maior saudade creio que seja da infância e de pessoas que mesmo com o pouco tempo que pude conviver, significaram muito pra mim.
De Paysano, Para Paysano: O que te fez começar a escrever? Qual a primeira letra, lembra? 
Matheus Costa: Comecei a escrever com uns 11 ou 12 anos, foi algo bem natural, quando vi já estava me arriscando a tentar transmitir algo no papel. Acredito que pela minha personalidade mais reservada, sempre coloquei na poesia aquilo que deixava de falar. Sempre foi como um refúgio pra mim. Minha primeira letra foi "Pra Antes da Primavera." um tema que contava de tudo que acontece na ânsia para que chegue a primavera. Era algo assim, não lembro bem o certo.
De Paysano, Para Paysano: Tua maior influência?
Matheus Costa: Várias. Sempre digo que sou fã e aluno da poesia de Aureliano, Jayme, Osíris, Guido Moraes, Lauro Simões, Sérgio Carvalho Pereira, Eliezer Dias de Sousa, Gujo Teixeira e tantos que colocam a própria alma nos  versos que escreviam e escrevem. E fora da cultura gaúcha, admiro muito a poesia do Vinicius de Moraes, Chico Buarque, entre outros.
De Paysano, Para Paysano:  O que mais fala sobre ti? Um verso de autoria tua ou não, que fale de ti. 
Matheus Costa: 
Como Yo Lo Siento
(Osiris Rodriguez Castillos)

 "No venga a tasarme el campo
con ojos de forastero,
porque no es como aparenta
sino... como yo lo siento.

 Yo soy cardo d'estos llanos,
totoral d'esos esteros,
ñapindá de aquellos montes,
piedra mora de mis cerros,

y no va'cre'r si le digo
que hace poco lo comprendo!

 Debajo d'este arbolito
suelo amarguiar en silencio...
Si habré lavao cebaduras
pa' intimar y conocerlo!

 No da leña ni pa' un frio,
no da flor ni pa' un remedio,
y es un pañuelo de luto
la sombra en que me guarezco...

 No tiene un pájaro amigo
pero, pa'mí,
es compañero!

 ...Pa'qué mentar mi tapera;
velay... si se está cayendo!
L'han rigoria los agostos
di una ponchada de inviernos...

 La vi quedarse vacía;
la vi poblarse'e recuerdos...
Sólo pa'no abandonarme
li hace patancha a los vientos,


 y con goteras de luna
quiere estrellar mis desvelos!
 Mi pago conserva cosas,
guardadas en su silencio,
que yo gané campo afuera...
que yo perdí... tiempo adentro.

 No venga a tasarme el campo
con ojos de forastero,
porque no es como aparenta
sino... como yo lo siento:
 su cinto, no tiene plata
ni pa' pagar mis recuerdos!"

 
De Paysano, Para Paysano: Tua melhor letra, a que tens o maior carinho?
 Matheus Costa: Todas letras que escrevo pra mim tem um valor inestimável. Cada uma ao seu jeito. Esta, sem desfazer de alguma outra, por se tratar de um tema muito pessoal, guardo  com um carinho muito grande.
 
NO RETORNO PRA O POVOADO
(Matheus Costa)
Hoje tem fandango largo
Talvez ela ande lá
E a seda do bichará
Traduz o que eu nunca disse...
Se o destino permitisse
Sob a bênção do sereno
Eu vê-la com jeito pleno
Será muito se eu pedisse?!
Quem diria que a cordeona
Depois de embalar pecados
Num sonar mais cadenciado
Ia mostrar-se alma pura?!
Sentiu de longe minhas juras
Contando segredo e sonho
E viu um rosto risonho
Formar razão e figura.
Eu tristonho em serenata
Entoava junto ao vento
Milonga em voz de lamento
Mas ja sabia o desfecho:
- Iria encontrar o trecho
Depois de um simples bailado
Levando a flor pra o povoado
Num potro atado do queixo.
Era só o tempo certo
Pra consumir o silêncio
E um raio de luz intenso
Clarear as barras do dia,
Já fugiu a estrela guia
Mas não é minha esta culpa
Pois trago sobre a garupa
Outra estrela que me espia...
Agora resta o destino
Mais forquilha ao meu tordilho
E ao cruzar pelo espinilho
À esta flor dou outra igual,
Quem sabe o ar outonal
Já estafado das esperas
Traga cedo a primavera
Coloreando o pajonal.
Enfim liberto meus versos
Que escravizei tão sentido
E no treval renascido
Habita uma flor bonita...
Que ali, sincera e bendita
Revela sempre à quem passa
Toda quietude da graça
De quem muito andou solita.
 
 
 
 
 
 
De Paysano, Para Paysano: Qual pensamento que teve quando escreveu?
 
Matheus Costa: Foi em mais um destes momentos de refúgio, como te falei. Horas que parei pra contar em poesia o que não pude contar em voz.
 
De Paysano, Para Paysano: O que acha dos nossos festivais? Teus melhores amigos (dentro da música)?
 
Matheus Costa: Acho muito válido esse movimento dos festivais, quando levado pelo lado cultural e amistoso. Fazer música pelo gosto e prazer, e dividir isso com pessoas que partilham desse mesmo sentimento, e mais ainda, em prol da arte do nosso estado, isso é sensacional. Porém quando isso começa a ser levado de um jeito comercial (que ao meu ver é muito frequente hoje em dia) a coisa se torna errada e quem perde com isso somos nós mesmos e aqueles que vão vir depois de nós, afinal o que fica pra eles é o que fazemos por bem hoje. Quanto à amigos, não vou citar nomes porquê posso acabar esquencendo algum, mas todos que conquisto e preservo nessa caminhada musical, tenho um apreço sem tamanho.
De Paysano, Para Paysano: Foi difícil entrar no meio da música?
Matheus Costa: Me vejo começando ainda nesse meio. Não é fácil, a paciência, a insistência e a consciência do pelo teu trabalho são fundamentais. Mas creio que, como falei antes, quando fazemos música para satisfazer nossa própria alma, pelo gosto mesmo, as coisas fluem naturalmente, sem pressão, e tudo se ajeita como queremos.
 
 
De Paysano, Para Paysano: O que sente, quando as pessoas cantam as tuas músicas?
Matheus Costa: É inexplicável. Ver cantores - às vezes muitos deles quem tu assistia nos palcos como fã - espalhando teu verso para o público é muito bom. Maior que qualquer prêmio, realmente é algo que dá a certeza que trilhamos o caminho certo.
 
 
 
 
 
 
 
De Paysano, Para Paysano:: Com quem escreveria um verso? Musicada, por quem?
 
Matheus Costa: São tantas pessoas que admiro e faria isso. Mas sempre tive um sonho de ter um verso meu musicado ou cantado na voz do Marenco. É um cara que acho fora de sério pelo artista e pela pessoa que é. Quanto a escrever, me identifico muito com a obra do Gujo. Me agrada muito a forma dele escrever e as imagens que relata.

De Paysano, Para Paysano:
 
 
Qual a tua rotina?
 
Matheus Costa: Faço faculdade de Zootecnia, minha maior parte do tempo é dedicado à isso. Mas sempre estou junto à minha família, amigos, e pessoas que quero bem.

De Paysano, Para Paysano: 
 
 
Matheus Costa: O momento em que os versos nascem, momento que te inspira? Não tem momento certo. É algo que me surge de repente. Cansei de acordar de madrugada com uma frase pronta na cabeça  e seguir escrevendo. Mas não tem hora mesmo. Tem vezes que passo meses sem escrever nada e surge uma nova idéia.

De Paysano, Para Paysano: 
 
 
Pra quem está começando, qual é a dica?
Matheus Costa: Como disse antes, paciência, ser crítico daquilo que faz, mas principalmente fazer porquê gosta. Não fazer porquê quer passar ou ser premiado em tal festival ou porquê quer exibir seus versos. Escreve pra si mesmo, escreve pr satisfazer a própria sede daquilo, fazendo isso com sinceridade, as consequências boas sempre acontecem.

De Paysano, Para Paysano: 
 
 
Falar um pouco do seu ultimo trabalho.
Matheus Costa: Bom, sigo nesse caminho da poesia e da música, fazendo novas amizades e levando de pouco em pouco à quem posso as mensagens que procuro transmitir através do ve
O blog, agradece a tua colaboração, Matheus Costa. Sucesso, pra ti!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

De Paysano, Para Paysano: Entrevista com Juarez Machado de Farias

Essa semana, proseamos com Juarez Machado de Farias, advogado, poeta e radialista, da cidade de Piratini.




De Paysano, Para Paysano: Onde nasceu? Onde mora?

Juarez M. de Farias: Na Costa do Arroio Barrocão e do Rio Camaquã, bem no encontro dessas duas águas, no 3º Distrito de Piratini. Moro desde que concluí o Curso de Direito em Pelotas, em 1997, na cidade de Piratini, atualmente, na Rua General Neto nº 10, Centro. Aliás, me orgulha muito morar num lugar com o nome deste valoroso brasileiro e gaúcho.

 De Paysano, Para Paysano: Qual a tua maior saudade?

Juarez M. de Farias: Da ingenuidade da infância quando o tempo era mágico e permeado com conversas com amigos imaginários ou invisíveis.

De Paysano, Para Paysano: O que te fez começar a escrever (musicar, interpretar)? Qual a primeira letra (letra musicada, Interpretada, lembra)?

Juarez M. de Farias: Minha saudosa Professora MARIA LÚCIA MACHADO DA ROSA foi quem me estimulou a escrever a partir de uma redação – que ela chamava “composição” – que fiz sobre Tiradentes. Ela leu e disse mais ou menos assim: “Juarez, tu podes ser um escritor.” Essas palavras foram determinantes para que eu começasse a ler sobre poesia naquela precária escolinha de madeiras verdes de nome Machado de Assis que nem biblioteca possuía mas tinha um tesouro de educadora. A primeira letra musicada acho que foi por Leonardo Oxley Rodrigues quando eu estudava no CAVG (Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça) que ainda continua inédita. A primeira letra gravada foi na 5ª Vertente da Canção Nativa, em dezembro de 1994, em Piratini, intitulada “Sem Água Pro Mate”, musicada por Joca Martins e interpretada por Flávio Hanssen.

De Paysano, Para Paysano: Tua maior influência?

Juarez M. de Farias: Luiz Coronel, Apparicio Silva Rillo, Jaime Vaz Brasil, Sérgio Napp.

De Paysano, Para Paysano: O que mais fala sobre ti? Por que? Um verso de autoria tua ou não, que fale de ti.
 
Juarez M. de Farias: “No mais, eu não mudei, ainda canto/milongas num violão que é mais um vício/e busco na janela a inspiração/falando de um galpão neste edifício” – uma estrofe da letra Guri do Campo, musicada por Diego Espíndola, porque é o meu retrato. Minha essência é a simplicidade do campo mas sou urbano, irremediavelmente, urbano por força das profissões de advocacia e radialista.

De Paysano, Para Paysano: Tua melhor letra, a que tens o maior carinho? (Mandar a letra, se possível)

Juarez M. de Farias: “Se Marx fosse peão” é um poema que me traz muitas alegrias. Até um juiz  em uma vara do Trabalho de Joinvile, Santa Catarina, usou o poema para fundamentar sua decisão. Quem quiser conferir, o endereço é endereço eletrônico http://sintrajusc.blogspot.com/2008/05/se-marx-fosse-peo.html.

Mas eu destaco muitas outras como “Florecita” com Joca Martins, “Velho João Esquilador” com Fernando Mendes, “Aviso” em parceria com Valdir Verona.

De Paysano, Para Paysano: Qual pensamento que teve quando escreveu?

Juarez M. de Farias: Cada poema/letra que escrevo tem razões muito emotivas e reais. Quando comecei a escrever, eu tinha um desespero em produzir muito mas, de uns tempos pra cá, acho que amadureci e me tornei mais comedido em quantidade para buscar textos mais concisos mas fortes.

De Paysano, Para Paysano: O que acha dos nossos festivais? Teus melhores amigos (dentro da música)?

Juarez M. de Farias: Se não existissem os festivais, minha história seria outra e os meus melhores amigos talvez não teria encontrado nessa vida. Quantas risadas, lágrimas, histórias incríveis eu vivi por causa dos festivais nativistas. É – e será sempre pra mim! – um mundo mágico. Recentemente, ganhei do Poeta José Carlos Batista de Deus uma sacola com vários livros de festivais desde as primeiras edições da Charqueada de Pelotas até os mais recentes. É um presente com um valor imenso. Agradeci muito ao Batista. 

Foi difícil entrar no meio da música?

Juarez M. de Farias: Sim. O primeiro festival de que participei foi a VI Jerra de Santa Vitória do Palmar. Era uma música minha e do Joca Martins – “Estampa De Um Livre” – que ele interpretou. Não foi pro disco e foi uma grande tristeza pra mim que estava começando. Teimei muito até começar a participar em discos.

 
De Paysano, Para Paysano: O que sente, quando as pessoas cantam as tuas músicas?

Juarez M. de Farias: É uma emoção que se mistura com a ideia de que a arte deve ser socializada.Assim também ocorre com os poemas de minha autoria, como, por exemplo, “O Forneiro E O Porteirão”, declamado em muitos concursos do meio tradicionalista por crianças e jovens que nem conheço. Às vezes, procuro na internet gravações e citações das minhas obras e fico feliz pois acho bastante ressonância do meu trabalho que é, essencialmente, muito simples.

De Paysano, Para Paysano: Com quem escreveria um verso?
Juarez M. de Farias: Com Mário Barbará, um dos meus ídolos. Ele mesmo poderia cantar com aquela voz tímida mas sentimental e autêntica.

De Paysano, Para Paysano: Qual a tua rotina?
Juarez M. de Farias: De segunda-feira à sexta-feira, acordar às 04h20min para apresentar o programa “Canto dos Livres”, ou seja, MADRUGAR mesmo. Com muito chimarrão e emoção. No sábado, às 05h20min, para apresentar o programa “Amanhecer Em Cacimbinhas” – ambos pela Rádio Nativa FM de Piratini, que podem ser sintonizados em www.nativafmpiratini.com ou no rádio – FM 93.9.Voltar pra casa (sou muito caseiro) e trabalhar em poesia e advocacia pois meu escritório é na minha própria residência.

De Paysano, Para Paysano: O momento em que os versos nascem, momento que te inspira?
Juarez M. de Farias: Qualquer momento. Quem se pretende poeta ou compositor tem de estar sempre inspirado. Inspiração e transpiração: essa dupla é o segredo da boa arte.

De Paysano, Para Paysano: Pra quem está começando, qual é a dica?
Juarez M. de Farias: Ler muito e escrever muito, mostrar o que escreve para pessoas do meio.

De Paysano, Para Paysano: Fala um pouco do seu ultimo trabalho.
Juarez M. de Farias: Tenho uma parceria com Fernando Mendonça Mendes – desde os idos de 1990 – e fiquei muito feliz com a edição do seu disco “O CANTO SIMPLES DA ALMA” que leva o nome de uma letra minha musicada e interpretada por ele, a qual foi feita num festival para convidados no interior de Canguçu, o Paradouro do Minuano. Valdir Verona gravou “Irmão Violeiro” e está a levar meus versos pra todo o Brasil, inclusive fora dele. Inclusive, já se apresentou no programa “Sr. Brasil” com Rolando Boldrin, oportunidade em que cantou a nossa música “Aviso”. Jorge Guedes e Família gravaram a minha letra “Anjo e Flor”, uns versos que fiz a pedido de um grande amigo que tenho – ADILSON QUADRADO VIANA (de Jaguarão mas que mora em Bagé ) – para sua esposa ZICA. É uma letra que fala de uma mulher carinhosa, verdadeira mas também tem um apelo universal pela PAZ. Enfim, estou em plena atividade.

 

De Paysano, Para Paysano: Sobre o que não foi perguntado, gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Juarez M. de Farias:  Acho que tudo foi perguntado para esta ocasião feliz em que me permito refletir sobre meu fazer-poético. Resta-me agradecer essa deferência que me fazes e desejo  que o DE PAYSANO PRA PAYSANO continue pois já é uma fonte de pesquisa para os programas de rádio que produzo. MUCHAS GRACIAS!
 
 
De Paysano, Para Paysano: Obrigado, Juarez, pelo carinho e disponibilidade em responder nossas perguntas. Sucesso!

domingo, 28 de junho de 2015

Entrevista com Carlos Omar Villela Gomes

Buenas!
Em nossa primeira prosa, "De Paysano, Para Paysano", temos o prazer de apresentar Carlos Omar Villela Gomes.

Advogado, poeta, compositor, uruguaianense, residente em Jaguari-RS. Integrante efetivo do movimento nativista gaúcho, tem cerca de 500 composições e poesias com registro fonográfico, sendo premiado em diversos eventos, entre eles, Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana; O Rio Grande Canta o Cooperativismo; Reponte da Canção, de São Lourenço do Sul; Canto Missioneiro, de Santo Ângelo; Minuano da Canção, de Santa Maria; Gauderiada da Canção, de Rosário do Sul; Grito do Nativismo, de Jaguari; Sapecada da Canção, de Lages-SC; Musicanto Sul Americano de Nativismo, de Santa Rosa; Coxilha Nativista, de Cruz Alta; Carijo da Canção, de Palmeira das Missões;Um Canto para Martin Fierro, de Santana do Livramento; Nevada da Canção, de São Joaquim-SC; Seival da Poesia Gaúcha, de São Lourenço do Sul; Festival de Música Crioula, de Santiago; Sesmaria da Poesia Gaúcha, de Osório; Bivaque da Poesia, de Campo Bom; Tropeada do Verso Sulino, de Caxias do Sul, Pealo da Poesia de Alegrete, Querência da Poesia, de Caxias do Sul, Carreteada da Poesia, de Santa Maria, Garimpo da Poesia, de Soledade, entre vários outros, atuando também como jurado em diversos eventos poético-musicais. Em 1997 recebeu o Troféu Vitória, prêmio concedido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul aos destaques no nativismo, sendo premiado na ocasião como melhor letrista do ano. É vencedor por dois anos consecutivos do Concurso Estadual de escolha da Música-Tema da Semana Farroupilha, promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho e o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, em 2005 com a composição “Gaúcho Sentimento” e em 2006 com “Tradição de Glória”. Foi vencedor do Carnaval de Uruguaiana como autor do samba enredo da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça e vencedor, melhor samba-enredo e melhor compositor de samba no carnaval de Cruz Alta pela Escola de Samba Imperatriz da Zona Norte. Membro da Estância da Poesia Crioula do RS, do Galpão da Poesia Crioula de Santa Maria, da CAPOSM(Casa do Poeta de Santa Maria), da AUL(Academia Uruguaianense de Letras) e ASL(Academia Santa–Mariense de Letras). É integrante da Oficina poético-declamatória Gaúchos Brasileiros. Possui CD com suas composições lançado pela gravadora USA DISCOS. Atualmente está finalizando o CD duplo “Gauchamente Falando”. Recentemente lançou o livro intitulado “Os Dez Mil Poetas”, sendo este projeto, elaborado pela Produtora Cultural Bianca Bergmam, aprovado e financiado integralmente pelo FAC(Fundo de Apoio a Cultura) do Estado do Rio Grande do Sul.

O Blog "De Paysano, Para Paysano", te agradece, Carlos Omar Villela Gomes, pelo carinho, cumplicidade e paciência, ao responder as perguntas. Agradeço à tua sinceridade. Obrigado, ainda, por incentivar e agregar tanto a nossa cultura.

De Paysano, Para Paysano: Onde nasceu? Onde mora?

Carlos Omar Villela Gomes: Nasci em Uruguaiana, Sentinela da Fronteira. Me formei e fui abençoado com meus filhos em Santa Maria, cidade Coração do Rio Grande, onde fui estudar e acabei me aquerenciando. Hoje resido em Jaguari, a Terra das Belezas Naturais.

De Paysano, Para Paysano: Qual a tua maior saudade?

Carlos Omar Villela Gomes: Saudade do meu pai, das minhas avós, dos tempos da inocência. Dos amigos antigos, que se foram. Saudade da minha Uruguaiana. Hoje a cidade continua bela, mas não é mais a minha Uruguaiana. Essa ficou guardada em algum cantinho do tempo. De vez em quando assobia na esquina da minha antiga rua. Mas é uma saudade boa, pois cada momento da vida tem sua beleza e seu encantamento. Se perdi meu pai, minhas avós e alguns bons amigos, a minha mãe Maria Helena, meus irmãos Paulinho e Maria Esther e muitos outros amigos de infância continuam comigo,  firmes e fortes. Hoje tenho meus filhos, Bibiana, Helena e Mariano, benção maior. Tenho a Bianca, meu amor. Somei outros grandes amigos pela estrada. Quem se foi, o tempo que se foi, continua conosco sempre, criando a base do que somos vida a fora. Não choro a saudade, brindo a ela.

De Paysano, Para Paysano: O que te fez começar a escrever? Qual a primeira letra, lembra?

Carlos Omar Villela Gomes: Tenho dois tios, o Vinícius Pitágoras Gomes, já falecido,  e o José Luiz Souza Villela, o Tio Gordo, que são poetas de mãos cheia e já participavam desde a minha infância das antigas Califórnias da Canção. Através deles, incentivado por meus pais, fui pegando gosto pela nossa cultura regional e pela poesia em si. Meu pai, Paulo Tarso Gomes, escrevia muito bem e minha mãe, Maria Helena, que foi a revisora do meu livro,  sempre teve uma sensibilidade ímpar para a poesia. Neste quadro acabei me aquerenciando definitivamente no universo imenso da poesia gaúcha.
Fiz meus primeiros versos quando tinha 11 anos, em um tema de aula, no retorno das férias de verão, contando os dias passados na estância do tio Cezar e da Tia Eleni, pais do grande poeta Rafael Ovídio, o Cabo Deco e do compositor Leandro Gomes, ambos meus primos-irmãos mais irmãos que primos e parceiros poético-musicais desde a infância.
Os versos diziam mais ou menos assim:
“Lá na estância do meu tio
É que eu pesco nos lagoões;
É lá que eu ando nos mouros,
Tordilhos, ruanos, lazões.”
Tem entrada na BR
Pras bandas do Caitoaté;
Se não dá pra ir a cavalo
Eu vou andando, de a pé!”
Pois é, de lá pra cá já somei 33 anos de verso e 44 de vida.

De Paysano, Para Paysano: Tua maior influência?

Carlos Omar Villela Gomes: Seria injusto definir uma única influência. Posso citar as que considero principais. Meus tios José Luiz Villela e Vinícius Pitágoras Gomes, meu pai, Paulo Tarso, Antônio Augusto Ferreira, que  foi o primeiro poeta fora da família a acreditar na minha arte. Colmar Duarte e Mauro Marques, mestres e amigos. Poderia citar vários outros de grande porte. Jaime Vaz Brasil, Sílvio Genro, Moisés Menezes, Jaime Brum Carlos, Miguel Bicca, Nenito Sarturi. Dos da nova geração, Rodrigo Bauer, Gujo Teixeira, Guilherme Collares, Juarez Machado de Farias, Rômulo Chaves. Influências boas que vão se somando pela vida, pois estamos em constante aprendizado e aprimoramento.  Sem citar os esteios da nossa poesia, Aureliano, Rillo, Jaime Caetano, Juca Ruivo. É longa a lista.

De Paysano, Para Paysano: O que mais fala sobre ti? Por que? Um verso de autoria tua ou não, que fale de ti.

Carlos Omar Villela Gomes: Tenho uma base familiar muito sólida e isso repasso na relação com meus filhos e meu amor. Na profissão, advocacia, sou objetivo e racional, mas na vida e na arte sou um ser emocional. A sensibilidade é minha bênção e meu calcanhar de Aquiles, mas creio ser o melhor caminho. Sofro muito perante as injustiças, aberrações, opressões, preconceitos e ódios que existem pelo mundo e frequentemente nos afogam de trevas pelas redes sociais. Sou um cidadão que acredita piamente na fraternidade e no poder transformador da arte. A arte tem o condão de sensibilizar as pessoas, e os corações sensibilizados certamente reagem melhor frente às máculas e barbáries da nossa sociedade, que por serem tão comuns e constantes acabam sendo banalizadas, pois de tanta dor, nossos corações se embrutecem e congelam. A arte derrete esse gelo e humaniza os seres humanos, que começam a enxergar e a reagir em prol do bem. Esse é o grande sentido da arte. Combater as chagas e defender os bons sentimentos e causas. Talvez o conjunto do que escrevo e as bandeiras que defendo me definam.
Uma vez o poeta Ramirez Monteiro me viu emocionado em um evento e escreveu “ Quando o Poeta Chora de Felicidade”. Talvez também seja uma noção do que sinto com relação à sensibilização que a arte nos presenteia.

De Paysano, Para Paysano: Tua melhor letra, a que tens o maior carinho? (Mandar a letra, se possível)
Carlos Omar Villela Gomes: Não tenho como definir uma letra ou poesia como melhor ou objeto de carinho maior,  pois todas são que nem filhos e muitas nasceram de forma diferenciada. Posso, talvez, compartilhar uma letra, que pode não ser a mais rica, a mais elaborada, mas pela forma como foi feita, talvez represente bem o que considero de mais sagrado na poesia: A Inspiração. Esses versos desceram em poucos minutos em um festival fechado, o Canto do Jaguar, primeiro do gênero a abrir as portas para a participação feminina, cujo tema foi “Mulher”. Foi certamente um momento espiritual e foi musicada da merma forma pelo meu irmão Nilton Ferreira: NA PAZ E NA DOR.

NA PAZ E NA DOR
No começo não te vi...
Talvez surgindo do nada
Por uma trilha encantada
Aos poucos apareci.
Flutuei num berço quente,
Num mundo dentro de ti...
Ventre de paz, simplesmente,
Até que um dia, nasci.

Chorei meu primeiro pranto,
Respirei meu próprio ar...
Me alimentei no teu seio,
Me aconcheguei no teu lar.
Abri meus olhos pra vida,
Pleno de luz e esperança...
Te vi mãe, anjo da guarda,
Com meu olhar de criança.

Te vi avó, protetora,
Com nossos planos secretos...
Talvez um doce escondido
Pra o meu sorriso de neto.
A vida seguiu de manso,
Me levaste pela mão...
Até que, não mais criança,
Um dia te vi paixão.

E quantas vezes te vi
Sob um olhar encantado...
Num rosto doce de moça
Te vi ternura e pecado.
E quantas vezes senti
E escrevi no papel,
Que nos teus olhos eu vi
Um anjo longe do céu.

Te vi em forma de um sonho
De sonhar a vida inteira...
Trocamos almas e alianças,
Então te vi companheira.
E te abracei mansamente
Pela mais linda das trilhas,
Até que um dia de inverno
Te vi em forma de filha.

O tempo encurta os caminhos
Com suas asas abertas...
Até que um dia, velhinho,
Te vi num rosto de neta.
Te vi com vários olhares,
Te vi na paz e na dor...
Mas sempre te vi mulher,
Mas sempre te vi amor!

De Paysano, Para Paysano: Qual pensamento que teve quando escreveu?

Carlos Omar Villela Gomes: Não houve qualquer pensamento, qualquer neurônio envolvido. Ela simplesmente aconteceu. Define a inspiração em sua forma mais pura, por isso é especialíssima.

De Paysano, Para Paysano: O que acha dos nossos festivais? Teus melhores amigos (dentro da música)?

Carlos Omar Villela Gomes: Entendo que os festivais são um celeiro inesgotável de criação poético-musical e a maior vitrine que temos dentro do nativismo. Sou grato aos festivais por tudo o que já proporcionaram e proporcionam ao nosso cancioneiro. Agora, eles devem ser encarados como um meio de divulgação e não como o objetivo final da arte, que é imensamente maior que qualquer competição, por mais sadia que seja. O Érlon Péricles brinca que sou o último romântico dos festivais. Tenho certeza que não, mas ao certo sou um deles. Que Deus nunca me prive de versejar com amor e paixão.
Quanto aos amigos de verdade, os grandes e verdadeiros amigos, graças a Deus, se eu começar a elencar, talvez passe o dia escrevendo e ainda faltará gente muito especial. A amizade é o grande patrimônio que ganhei na jornada da arte.

De Paysano, Para Paysano: Foi difícil entrar no meio da música?

Carlos Omar Villela Gomes: Na verdade as coisas aconteceram de uma forma casual. Apesar de ter ligação como nativismo desde piá, através dos meus tios e das primeiras Califórnias, nunca tive o interesse objetivo de participar dos eventos de forma profissional. Quando piá eu esboçava algumas canções com os meus primos Rafael Ovídio e Leandro Gomes. Fiz algumas melodia até, com as três notas que sabia no violão. O primeiro compositor a musicar e gravar uma letra minha foi o Jander Fagundes, de Uruguaiana, que na época era porteiro do Colégio Sant’Anta, onde eu estudava e volta e meia chegava atrasado. Então tinha que esperar o segundo período e ficava proseando com o Jander. É meu grande amigo e parceiro musical até hoje. Depois fui cursar Direito em Santa Maria, onde me encontrei com o Túlio Urach, conhecido e até a  pouco  desafeto de Uruguaiana, por rivalidades colegiais, e hoje dos melhores amigos que somei na vida. Eu e o Túlio começamos a compor pra o nosso consumo, mas nunca tivemos a intenção de divulgar o que criávamos. Nunca pensamos em gravar, muito menos de participar de festivais. Era a composição no seu modo mais despretensioso e desapegado. Naquela época fundamos a Sociedade Lítero-Musical Nativista Estrogonofe de Charque, que ainda está ativa, e após cerca de 25 anos de existência, possui um rol de integrantes convicto e imutável: o Túlio e eu. E assim foram anos de muito violão e verso pela velha Santa Maria. O violão por conta do Túlio, esclareça-se. Arranho um violão canhoto, mas sei meu lugar.
Uma certa noite, lá por abril de 1993,  chegamos eu e o Túlio, mais uns amigos em um bar santa-mariense chamado Boca de Monte, e tinha uma dupla tocando. Um cabeludo e um cara de óculos. O cabeludo cantava e tocava e o outro acompanhava, ambos no violão. Repertório versátil, entre MPB e muito nativismo. Realmente cativante. Ali ficamos, remando em uma ou duas cervejas e biqueando uma canha com fanta que escondemos debaixo da mesa, que a sede era grande e os pilas curtos. Normal da vida universitária. Num determinado momento eles fizeram um intervalo e sentaram ao nosso lado. Resolvi elogiar a dupla, que realmente era excelente, e aí a prosa fluiu. O cabeludo era o Erlon Péricles e o de óculos o Aldrim Prates.  Já tinha ouvido falar no Érlon, que, apesar de estar começando no meio nativista, já tinha emplacado algumas composições do meu agrado e conhecimento. Como houve empatia, o Érlon me convidou pra tomar um mate na casa dele e levar uns versos pra mostrar. Eu era tão despreocupado com música na época, apesar das composições com o Túlio, que de quatro pastas de versos, só meia dúzia possuíam forma propícia para musicar. O Érlon gostou de alguns versos e fechamos a parceria. Ele musicou algumas letras e gravou. Acreditou no que eu escrevia. Acreditou em mim. Me apresentou muita gente boa. Dizia que eu era poeta e que estava começando a compor para os festivais. Muitos me receberam muito bem e alguns perguntavam: Quantas músicas tu tens gravada? Eu ficava pensando: - Bah, qual é a parte do “está começando” que eles não entenderam? Mandei as músicas vários meses sem classificar nas triagens, até que em dezembro de 1993 classifiquei uma composição com o Érlon na 5ª Vertente de Piratini. Como ele estava tocando em Florianópolis na época, convidamos o Angelo Franco pra cantar. O Angelo eu havia conhecido antes de toda essa função, pois era amigo do Túlio, dos tempos eu que ambos moravam em Santiago. Chegamos ao festival no auge da nossa inocência e desconhecimento de causa. Era pra ser o Angelo mais dois violões. O Angelo chegou com apenas um violonista, o Luizinho Soares, pois o outro tinha quebrado a mão na véspera. E era o violonista solo! Então, através do Joca Martins, que havia sido recomendado pelo Érlon caso eu me apertasse, o Guilherme Collares assumiu a bronca no dia. O Angelo cantou muito bem e os guitarreiros se viraram nos trinta, mas não tínhamos condições de ir pra final, o que acabou se confirmando. Mas ali foi o passo inicial. Conheci o Joca, o Collares,  Cristiano Quevedo, o Mauro Marques, hoje dos meus maiores parceiros. Fiquei mais alguns meses sem classificar, até que no segundo semestre de 1994 passei duas composições com o Érlon do 1º Círio de Pelotas. Uma o Érlon cantou e a outra ficou a cargo da Juliana Spanevello, sempre talentosa, no alto dos seus 13 anos. A composição que a Juliana cantava passou pra final, sendo meu primeiro registro fonográfico. De lá pra cá foram muitos anos de aprendizado, aprimoramento, erros, acertos mas principalmente de muitos amigos se acolherando pelas veredas da arte, tanto na música quanto na poesia declamada.
De tudo isso ficou uma lição definitiva, que levo pra vida e procuro exercer cotidianamente: Ninguém é melhor que ninguém, ninguém nasce com currículo e todos têm direito a respeito, consideração e oportunidade.

De Paysano, Para Paysano: O que sente, quando as pessoas cantam as tuas músicas?

Carlos Omar Villela Gomes: Com relação aos parceiros, cantores, declamadores e púbico, emoção e gratidão são as palavras-chave.

De Paysano, Para Paysano: Com quem escreveria um verso? Musicada, por quem?
Carlos Omar Villela Gomes: Tenho grande admiração por vários poetas, e já fiz várias parcerias de versos, mas por afinidade, antiguidade e merecimento, sem dúvida tem um quarteto fundamental na minha estrada: Túlio Urach, Paulo Righi, Juca Moraes e meu amor Bianca Bergmam.
Agora, pra musicar, Érlon Péricles, Angelo Franco, Nilton Ferreira,Tuny Brum, Piero Ereno, Jean Kirchoff, Pirisca Grecco, Mauro Marques, João Bosco Ayala, Pedro Guerra, Geraldo Trindade, Marcelo Oliveira... Falo dos mais constantes. Com certeza, mesmo assim, estou esquecendo de gente inesquecível.
De Paysano, Para Paysano: Qual a tua rotina?
Carlos Omar Villela Gomes: Divido o tempo entre a família, a advocacia e a poesia. Muitas vezes tenho que pegar a estrada, por questões profissionais e artísticas. Quando fico por casa, tenho um dia a dia simples e encontro a felicidade nos pequenos prazeres, que forjam grandes riquezas. Em Jaguari isso se demonstra da forma mais singela. Tomar um vinhozinho de colônia com a Bianca, na beira da lareira; brincar com meus filhos; ligar pra minha mãe; Uns mates pela manhã; Um cafezinho servido pela Bi depois do almoço; fazer festa com as cusquinhas e o gato; Escrever uns versos; ouvir música; assistir a um jogo qualquer na casa do João Ari Ferreira, na nossa já tradicional Arena Mista, que nada mais é que a sala de TV dele; Filar uma bóia no Nilton Ferreira e na Rita. Receber e visitar amigos de fé. Enfim, pequenos momentos que tecem um mosaico imenso de felicidade na alma.

De Paysano, Para Paysano: O momento em que os versos nascem, momento que te inspira?
Carlos Omar Villela Gomes: Isso os versos decidem. Na maioria das vezes me considero um mero instrumento de repasse. Com o tempo a gente aprende a desenvolver letras e poemas de forma pensada, mas o grande e verdadeiro processo de criação é espiritual. Não tem hora nem local. Simplesmente acontece.

De Paysano, Para Paysano: Pra quem está começando, qual é a dica?

Carlos Omar Villela Gomes: Ler muito, ouvi muito, sentir, viver e criar. A inspiração está no mundo e o crescimento está na vida e no tempo. Somos eternos aprendizes. É chavão, mas é real. Antes de criticar exercitem a autocrítica. Deixem a alma fluir sempre, mas procurem nutri-la com capacidade e conhecimento. E, principalmente, entendam que a mensagem e a capacidade de sensibilizar as pessoas valem mais que qualquer troféu ou premiação. Tenham sempre em mente que a nossa cultura, ideias e valores são infinitamente maiores que o nosso umbigo, que o nosso tempo e que o real grande prêmio é contribuir com a construção de uma humanidade realmente mais humana. As portas do nosso rancho sempre estão abertas para os novos irmãos de arte.

De Paysano, Para Paysano: Falar um pouco do seu ultimo trabalho.

Carlos Omar Villela Gomes: Meu último trabalho lançado é o livro “OS DEZ MIL POETAS”, um resumo do que fiz na poesia e na musica nesses vinte e tantos anos de estrada. Ele foi integralmente patrocinado pela Secretaria do Estado da Cultura do RS, através do FAC(Fundo de Apoio à Cultura), com produção cultural do meu amor Bianca Bergmam, ilustrações do grande Sílvio Genro e arte final e diagramação do poeta e jornalista Shaka Guerreiro. Como todos são versejadores, a simbiose foi maravilhosa e o resultado final ficou muito além das minhas expectativas.

De Paysano, Para Paysano: Sobre o que não foi perguntado, gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Carlos Omar Villela Gomes: Quero agradecer imensamente a ti e à tua generosidade ao me convidar pra esta prosa. Através desta página poder
emos conhecer um pouco mais sobre os nossos companheiros de estrada e sina. Se me estendi muito é porque realmente as tuas indagações me levaram a viajar no tempo e a reencontrar nos porões e sótãos da alma a essência do que sou e os retratos do que fui. Viagem buena, que valeu à pena, que atiçou o braseiro do passado, mas que me fez ter mais confiança e certeza no fogueiral do presente. Beijão a ti, meu irmão Rafael, e a todos que compartilharem conosco estas extensas e sinceras linhas.


Lembramos, que nossa próxima prosa será com o cantor Jader Leal.


Abraços!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A nossa primeira prosa, "De Paysano, Para Paysano, tem o grande prazer e honra de anúnciar, um dos maiores poetas desse Rio Grande: Carlos Omar Villela Gomes!

Nossa prosa será publicada no domingo!

Pala da Noite
(Carlos Omar Villela Gomes)

A lua é um buraco de bala no pala da noite
Oigalête, mas que mira do atirador,
Ou tava atirando pra cima por rabo de saia,
Ou tava fazendo tocaia pra Nosso Senhor.

A bala furou este pala, presente do dia,
Um pala de seda e poesia que a noite vestiu
E a noite acoçada de bala ergueu "três marias"
Tentando bolear devereda a quem lhe agrediu.

Já tava armada a peleia bem lá nas alturas
A noite de pala furado de raiva tremia,
Quem foi o bandido sem alma que só por maldade,
Fez mira no pala da noite regalo do dia?

Mas Deus, já cansado de guerra pediu uma trégua
Pra noite que tava tão cega de raiva e de frio
A noite largou "três marias" erguendo cruzeiro
E o céu se amansou novamente no sul do Brasil.

Num fundo de campo tranquilo, Blau Nunes pitava,
Foi só um balaço por farra ninguém se pisou
E a noite ainda hoje chuleia querendo vingança,
Blau Nunes é lenda e a história Simões não contou!